domingo, agosto 22, 2010

da evoluçao tecnologica, os telemoveis e internet

a evolução tecnológica não acompanha a evolução da mente humana (numa perspetiva evolucionista da espécie) e dos comportamentos sociais. a tecnologia pode mesmo gerar comportamentos "antissociais", estranhos e seduzir a humanidade para controlar os seus elementos mais dependentes. conduzimos automóveis e motas e manipulamos as mais variadas máquinas complexas, mas pouco nos diferencia dos macacos amestrados com um capacete na tola. em tudo mantemos gestos de animalidade, destacando-se em particular a área social.

uma das ferramentas que dispomos para interagir socialmente é a linguagem.

a linguagem escrita, está no século 21 no nosso país, muito mais generalizada. supõe-se que quem utiliza dispositivos tecnologicamente avançados dominará, pelo menos em parte, as "tecnologias" anteriores, como seja a língua materna. no entanto verifico que este será um pressuposto errado. assim, quando se fala em iliteracia estamos a ser demasiado otimistas porque admitimos implicitamente que alguém ainda fez um esforço para ler, só que infelizmente não o compreendeu. ora eu, suspeito que esse esforço de leitura não existe mesmo.

a acrescentar a esta cultura de ignorância sobre a linguagem, a evolução tecnológica permite o florescimento de gente rude, bruta egoísta e que se atropela a si própria e aos outros. são pequenos déspotas, equipados com telemóveis de último design tecnológico julgando que tais aparelhos lhes conferem poder. esta gente vive na ilusão de que podem obter respostas imediatas e de importunar em qq horário, pisando a disponibilidade e vontade da outra parte. recorde-se ainda, a particularidade boçal, que é o atrevimento de questionar posteriormente, o motivo pelo qual não foi atendido. passam rapidamente sem qualquer pudor do apoio emocional à perda de um amigo, para uma discussão, ao telemóvel que entretanto toca, seja sobre que assunto for, nos momentos e locais mais impróprios, num tom e timbre de voz que oferece retalhos da sua vida privada a todos aqueles que o rodeiam, querendo ou não ouvi-lo. para esta gente nada é verdadeiramente importante, tudo é fugaz, superficial e descartável, completamente desregulado por rituais de respeito pelos interlocutores. e fazem-no em todo o lado seja no emprego, em viagem, na praia, no cinema, nos restaurantes e fazem-no a qualquer hora e fazem-no com toda a gente. esta gente faz-nos perder tempo. não nos passa pela cabeça ir ao gabinete do chefe bater à porta ininterruptamente a cada minuto até que ele abra o gabinete. observa-se a agenda, fala-se com a secretaria, pede-se reunião,... há um ritual.

isto não é o preço que temos de pagar pela "evolução tecnológica". isto não é assim, nem tem de ser. o que eu tenho (ou temos, para quem se quiser juntar a mim) é ensinar estes burgessos.

os telemóveis são muito úteis, facilitam-nos a vida e compreendo ser útil concentrar varias funções no mesmo dispositivo. muitos são simultaneamente agenda, relógio despertador, leitor de mp3, máquina fotográfica e ainda fazem pequenos filmes. duvido muito que todos tenham as mesmas necessidades. e por isso não compreendo que todos adquiram indiscriminadamente o último aparelho, o mais caro, o mais rápido, aquele com mais funções que mais tarde adornado com um "toque" de gosto duvidoso importuna quarteirão e meio da vizinhança. parece ser o desejo sôfrego por adquirir status (social) pela simples compra de um objeto reconhecido pelo "grupo" como algo distintivo conferindo alguma superioridade e admiração. e esta enorme depressão que os atinge torna-se tanto mais evidente quanto maiores forem as suas inabilidades de se expressarem.

o nosso papel é demonstrar que existem regras. os telemóveis, por mais simples que sejam dispõem de uma função que consiste em enviar pequenas mensagens escritas vulgarmente conhecidas por SMS. esse sistema permite dar ao nosso interlocutor tempo de resposta e gerir o seu momento (espaço e tempo) para falar connosco. aliás, não percebo porque não enviam uma sms logo após a primeira tentativa falhada de comunicar e esperar pela resposta e preferem insistir vezes consecutivas com nova remarcação à espera que do outro lado atendam.

o facto do telefone estar ligado não legitima as consecutivas tentativas de marcação macaca. o facto de mantermos o nosso telefone ligado a horas impróprias nao confere nenhuma autorização para nos ligarem a incomodar. temos o direito de não atender, de não querer atender, assim simplesmente e sem qq justificação. temos o direito de concentrar todas as respostas para o fim do dia ou de utilizar atendedores de chamadas e de selecionar as chamadas, ou ainda simplesmente decidir não as querer atender, ou atender apenas contra identificação após sms de resposta a um pedido concreto, ou de simplesmente não querer ouvir.

mesmo depois de tudo isto explicado vão continuar sempre a existir pessoas que não compreendem estas regras básicas. vão manter os seus deficits intelectuais, sociais e emocionais que sendo suficientes para a tecnologia são reduzidos para comportamentos sociais ajustados. esta gente vai continuar a correr alarvemente as suas agendas eletrónicas em busca do "contacto" da próxima vítima e efectuar chamadas insistentes várias vezes até que a vitima se canse, ou fique disponível para o atender.

este modo de "estar" e de se comportar com novos canais de comunicação verifica-se com os telemóveis mas também com o correio eletrónico. mas é muito curioso notar que com a utilização da internet estes problemas não são tão preocupantes...pois! porque nesse caso a comunicação eletrónica é socialmente invisível. não existe prova física da superioridade nem é possível a exibição de equipamentos sofisticados perante os outros para enviar e-mails. por isso ter disponível internet em casa não se tornou tão popular como adquirir o último telemóvel do mercado...e por isso a maioria, longe das vistas dos outros, nem acesso à net possui.

1 comentário:

El Matador disse...

au point